segunda-feira, 5 de novembro de 2007

A escada de nácar...

As cortinas escancaradas mostravam o sol sem pudor.
O dia entrava por aquele apartamento de luxo sem delonga,com urgência de um louco,beijando os cortinados respeitosamente que não fizeram por lhe resistir.
Eram uns cortinados com porte pesado e suavidade de cetim.Toda aquela casa era luz.O chão,imaculado,reflectia os candelabros com design moderno que se acendiam quando o sol ia aquecer outras almas,de outros mundos.Havia um sofá creme.Em frente ao sofá,uma mesa suspensa por um simples pé...em cima da mesa uma chave.Um plasma pairava na parede magestosamente e uma faca cortava o ar.Através da enorme montra,lambe agora,o sol,um quadro de Bosch.
Uns sapatos finos pisam aquele chão de nácar com exoberancia.O dono daqueles sapatos fixa o olhar em direcção a três pontos encarnados que jazem secos no chão.
-Tens sorte sabes?Uma alma leve tem menos dificuldade em abandonar a carne.Pronta para a purga?-disse o dono dos sapatos finos com uma expressão metade bem feitora,metade nostálgica.Todo ele muito elegante,todo ele desenhado a traço italiano.
Falava para uma mulher,uma mulher de olhar leve.Dois rasgos de maquilhagem pendiam-lhe dos olhos como o gelo pende dos telhados;com drama.Envergava um vestido vermelho,volumoso,de gala,que não lhe tapava os ombros.Era bela como as actrizes o eram nos anos dourados de Hollywood...e não tinha mais lágrimas para espalhar no chão já com sabor a mar.Estava atada,nem a mente conseguia escapar áquela prisão,a voz também já não se podia fazer ouvir,aprisionada por entre panos de veludo com cheiro distinto.
Ouvira um clic,uma fechadura acolhera uma chave com doçura.A tampa de uma caixa vermelha abriu-se libertando o segredo ao ar que acolheu.
-A tortura da carne enche a alma de alegria.Que toda a alma tenha a sorte de ter uma carne sofredora.-dizia o homem em transe enquanto tirava da caixa uma grande agulha com uma grosseira linha preta.-Para que não voltes a olhar o pecado e para que o pecado não volte a sair do teu ventre.
Grossas gotas de sangue batiam violentamente contra o chão cada vez menos imaculado,furiosas,gritando até à mais ínfima molécula,as palmas dos pés espalhando-as freneticamente,a saliva cheia de raiva a lavar as que conseguia.
A luta havia terminado.O rosto do homem dos sapatos finos havia-se iluminado ao mesmo tempo que o da mulher,bela como as acrizes de Hollywood,se havia posto no breu.
Tirou uma faca do bolso para se ferir de morte.
Agora todo ele era santo.

9 comentários:

meldevespas disse...

Absolutamente soberbo.
Fascinante mesmo. Amei a violência explicitamente velada e sensual que deste à prosa.
Além disso, conseguiste aquele crescendo que nos obriga a ler até ao fim sempre com sofreguidão. Amei de verdade.
Beijos, boa semana

Anita disse...

Só para deixar um "comentário repugnante"...

*burp* [arroto com cheiro a chouriço]

Bem haja pela atenção

:)

weee disse...

A pausa forçada fez-te bem à escrita! ;)

Adorei!!

Henriqueseis disse...

Estou de volta com mais um novo e fresco mito urbano.
Aparece por lá a leitura é agradável .
http://novos-mitos-urbanos.blogspot.com

Denise disse...

sim... coiso...
nao li nem metade!

agr k penso... li so a primeira palavra...



e e esta a minha vida... comentar post's sem os ler.

beijo da amelia :D

Cu de Barbas disse...

É por isso q n evoluis minha cara...Deus tenha piedade das pitas :)

Anônimo disse...

Uau... tá demais!! Os "ares fluviais" deram-te inspiração... =P
Valeu a pena a ausência para depois ter a oportunidade de ler coisas destas =)



Lempicka

Denise disse...

cala te. tu amas me! tenho dito .

a amelia diz que ja nao gosta de ti.

.|.

Denise disse...

ahaha a amelia tb te odeia!
ahahahahaha
MUAHAHAHAHAHAHAHA

mas eu sei que me amasm escusas de dizer que me odeias pq sabes q e mentira, nao lutes contra os teus sentimentos...

pobrezinho, esta na fase da negaçao...


-.-'

beijinho@