domingo, 12 de novembro de 2023

Pergaminho amarelo...

Indonésia, 1991    


-Então, vamos agora a um bar?

-Tomar um digestivo em boa companhia?

-Que dizes Jack?

-Não!!

-Não?

-Digo não.

-Estás parvo? O Jack está parvo.

-A noite é fria e cheia de terrores. Com sombras escondidas entre tentações disfarçadas de sereias, o que é mau. Com o líquido dos deus emanando dos poros dos incautos. O terror terreno bailando descaradamente com vil contacto ocular! A noite… uma teia e nós moscas tropeçando na atmosfera das nossas atitudes. Não tardará muito até seremos devorados. -Os três amigos entreolharam-se e, ao mesmo tempo esticaram o pé direito, dando início à caminhada. Jack segui-se-lhes. 

    Os sapatos clicavam o pavimento em direcção a um pequeno e acolhedor edifício de madeira que fervilhava e transbordava corpos alegres por portas e janelas.

-Olha! Viste? Viste aquilo Jack?

-Era uma pessoa?

-Era! Não é incrível? Um edifício cheio de pessoas e álcool. Quem diria. Achas que nos servem uma bebidas?

-Acho que nos vão servir meias bebidas, a preço de bebidas inteiras. É o custo da hospitalidade.

-Ui... e que hospitalidade. 



(continua)

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

III


Na ancoragem da ausência a lembrança é um pergaminho,
Velho rico e consciente, consistente com a falsa estrutura.
Por tentativas eu te larguei e tu faleceste-me num pranto.

Manchaste mais do que a negrura abissal,
Por uma ou outra razão qualquer...
Calculando os custo do funeral, ficava mais em conta se no fundo interpretasses uma mulher. 

terça-feira, 11 de julho de 2017

9:49

O ritmo caía-lhe entre as peúgas com riscas verdes e castanhas, enquanto os pés se afundavam nas folhas do jardim e o mundo inteiro atirado para o ar por um gesto perpétuo do nariz pontiagudo. Uma construção perfeita que ria na circunferência idílica, que se deixava rodear pelos raios de felicidade ténue e apaziguadora. Era ali que se perdia a perspectiva e se perdia no infinito. E a natureza ria-se com ela. Pelo menos assim gostava de pensar.

sábado, 2 de maio de 2015

Licantropo

Amor que existe
Como menstruação coagulada
Que a mim ninguém me assiste
Nem a dor de parto de puta, nem nada

Se desejo houvesse
Para além da minha janela
Na tua, se não me mordesse
Perversa mentirosa, porcelana, bela

Se desejo eu tivesse
Talvez voasse como um homem
Daqueles a sério, de pedra
Daqueles de verdade, alarves

Mas vergonha, também sinto
Na cara, pois então
E cada vez que eu me venho
É cortês lamberes um limão

Medo do medo...

Na vã, santa constipação. Na viagem ou alunagem se fez rica. Morde o cão, morde João. Gostas dela? Vai João, atira-te que ela é de certa cor por fora e por dentro de outra. Que pecado ser vaiado pela malta de Aljustrel. Que pecado ser lambido por aquela língua de fel. Vai Armando, vai Joel. Compra-me o diário de ontem.

sexta-feira, 19 de setembro de 2014


Última previsão do tempo

Tudo o que é mundo se afasta da concepção. Fujam mães para o buraco, enterrem vossos filhos bem fundo. Que de baixo da grama há um trato, de sangue e chamas e ar, ao que parece, carne nua que apetece, bolinhos de mãe desnaturada.