sábado, 14 de agosto de 2010

À volta da mesa redonda plantados, os cinco personagens envoltos numa negra atmosfera de bar.
Dizia um enquanto esfumaçava em pose imperial, com o sobrolho levantado e a gravata borratada de cinza. "Tens que abrir a goela de um peixe. Morto. Pormenor importante. Enfias duas falanges. Mais que isso só se tiveres unhas cortadas. Até tocares as guelras ao de leve. Como quem toca um animal repugnante, peludo. Ao de fugida." Faz um gesto com o braço, palma aberta em ascensão. De lábios serrados e sorvidos como se tivesse medo que lhos roubassem. Bate com o cotovelo na bandeja da garçonete. Que cai. Com ela a rapariga em espasmos. A cara inexpressiva sublimava terror, tristeza. Os aromas materializavam-se em duas colunas de fumo denso que emanava das órbitas.
E disse ele, continuando. "Atenta. Depois de seguires estes procedimentos verás o peixe a saltar, enquanto do baixo ventre lhe chovem ovas. Púrpura. Juntas bem os dedos e devoras assim. Quantas mais. Melhor." Após o termino da explicação, isto. "Eu já fui violada." O grito da rapariga de boina militar que passara todo o tempo a concordar entre sorrisos com tudo o que era dito, abriu uma fissura no ambiente viciado daquele bar. Levanta-se. A parte inferior da farda do exercito em lugar incerto. "Fizeram-me o mal. Mas sem açúcar. O mal precisa de açúcar. Sabes?" Falava para sítio algum. Para alguém em concreto que não se encontrava ali. Abriu as pernas e colocou a cadeira entre. "Porquê eu? Sim! Não aguento mais os teus dedos sujos de terra dentro de mim." Tocou o clitóris, ao de leve. Como quem toca um animal repugnante, peludo. Depois carregou e remexeu com a ponta do dedo hirta, eléctrica. De baba a escorrer, cara de pau abaixo. Só quando o óleo começou a cair em catadupa do orifício. E é que não parava, enquanto ela, com as palmas cerradas, enterrava mais as cuecas, enegrecidas pelo líquido. Começaram, os outros quatro personagens, a aplaudir, perdidos pelo riso que há muito tentavam conter.
Com as bailarinas trancadas nos cacifos. Apagaram a luz.

4 comentários:

meldevespas disse...

Primeiro tu. onde tens andado? Está tudo bem? Não podes desaparecer assim, senti a tua falta.
Agora o texto. Gostei muito. A isto chama-se um regresso em grande. Fez-me lembrar assim à primeira um universo "Lynchiano". É sublime a forma como descreves o absurdo do momento. Como sempre grande.
Beijo

Cu de Barbas disse...

beijo carminho.
n tenho tido net, dai a ausencia
obrigado
espero q ctg esteja td bem :)

Sandra disse...

Parabéns pelo tema livre. Escrever nos inspira a voar pela imagnação.
Amo escrever. Por isso meu tema é Vida de Poeta.
Interação de amigos também está participando. Vou te esperar por lá.
http://sandrarandrade7.blogspot.com
este é um momento onde todos trocam experiências.As coletivas aproximam as pessoas.
Carinhosamente,
Sandra

Brown Eyes disse...

Maldita net que nos priva da análise da tua imaginação assiduamente mas, como disse a Mel, voltaste em grande e nós ficaremos a aguardar nova postagem sentados à mesa redonda, de luz acesa.