
Eram 9:00 da manhã.Quase que não havia ar dentro dos lençóis e o que restava estava impregnado de humidade,a sua humidade.Mas não era por isso que deixava de arfar.Ela sabia que a hora era aquela,sempre.Não havia lugar para excepções naquele lugar.A porta abriu,de tão habituada que estava,limitou-se a empurrar o ar em silêncio.Ela afastou as pernas num gesto pré-programado.
O tecido de pana,grosso,bruto,desmoronou sob a inevitabilidade gravitacional,e depois umas cuecas,gastas,sujas.
Ele colocou o seu corpo,velho,duro,sobre o dela,novo,demasiado novo e macio.
Nunca se olhavam nos olhos,a vergonha não deixava.
Ele forçou caminho de uma assentada.O falo mergulhou às cegas e com aspereza.Não havia lugar para o prazer,no lugar para onde ele ia.
As lágrimas corriam-lhe pelo rosto,sempre pelos mesmos sulcos de carne,como rios,desaguando naquele lençol sujo que se falasse,tantas histórias pútridas tinha para contar.
E,enfim,o falo libertou com pretenso desprezo tudo o que de bom e de mau havia a libertar.E saiu com pressa.
-Pai?Amo-te.
O velho saiu de cima dela,vestiu as calças e ali a deixou.O lençol manchado de sangue,a alma num limbo entre razão e emoção.
Do outro lado da parede dormia um cão preto,sereno,profundo nas trevas.Nada de estranho se havia passado.