terça-feira, 18 de dezembro de 2007
Conto de Natal...
Era manhã cedo,Christine levantou-se.
Tomou a direcção do espelho,apanhou o longo cabelo preto que lhe namorava a grossa camisola de lã e sufocou-o com um ténue fio de seda cor de terra.Tomou sem mais cuidados a direcção da porta.
Estava frio lá fora.Ao longe avistavam-se uns álamos que penosamente espreitavam quem viesse.
Christine tomou a vareda.
A saia comprida mesclava-se com a neve,as botas pesadas faziam estragos no manto branco e a luz fintava os ramos.
Olhando para os lados,Christine prendeu a sua atenção numas bagas vermelho fulgente que pontilhavam aqui e ali a paisagem,quebrando a imaculada monotonia.Ela revia-se naquelas bagas.
Deteve-se a meio duma ponte,toda ela ocre e toda ela confiante,de porte majestoso e viril,deixava à vontade quem lhe pisasse as pedras,alinhadas pela mesma medida.
Debruçou-se e olhou para baixo,para a rua que ali passava,respirou o fumo poluído que demorou a subir,juntou uma amálgama de flocos de neve e atirou lá para baixo;meteu as mãos aos bolsos e regressou a casa.
Era manhã cedo,Christine levantou-se.
Estava particularmente feliz...fechou os olhos e,em retrospectiva,lembrou-se que não mais se lembrava de tal estado de espírito.Uma onda arrebatara-a de dentro para fora,não lhe barrou o caminho e esta saira com estrondo,ricocheteando nas paredes e libertando-se pela janela.Preparou tudo cuidadosamente e saiu.Não fechara sequer a porta pois estava confiante.
Tomou a vareda de novo,mas desta vez apressou-se.
De súbito;parou.Uma baga vermelha prostrara-se no caminho.Tinha a altivez de uma muralha.Christine sorriu,debruçou-se,apanhou-a,comeu-a.Ao levantar-se,um laivo de luz fitou-a bem fundo na alma..Conseguiu ver todas as cores do arco íris como que se dentro dum fino raio de luz se estendesse um universo.Sentiu-se tentada.Olhou para a ponte que estava mesmo ali à distância de um segredo e dirigiu-se-lhe.
Mal sentiu o chão duro debaixo dos pés,uma ventania roubou-lhe às pernas o calor da saia;sentiu um frio furioso como nunca houvera sentido,um turbilhão de rostos agitava-se à sua volta.Não deixariam saudades.
Ao fundo,na rua,uma mancha vermelha aproximava-se.Passado algum tempo tomou a forma de pais natal que desfilavam seguidos por crianças alegres,seguidas pelos pais zelosos,seguidos pela imprensa,seguida por agentes policiais.
Christine esperava.
Já haviam passado os pais natal por debaixo da ponte.
Já haviam passado as crianças por debaixo da ponte que estremeceu com as suas gargalhadas.
Calmamente passou os braços por dentro da camisola de lã e atirou-a ao chão,desapertou o único botão da saia enquanto via todos aqueles pais passar,agora o fecho,a saia escorregou-lhe até aos pés.Enfiou os dedos,um em cada lado das cuecas e baixou-se para se ver livre do último tecido que a prendia.Ficou ali um pedaço de tempo a inspirar o calor que lhe brotava da pele.Descalçou as botas,chegou à beira da ponte e saltou.
O estalar de um crânio.
O sangue espalhava-se no passeio derretendo a fina camada de neve.Nas costas de Christine podia ler-se,em letras de oiro o seguinte:estou aqui por uma razão.O seu longo cabelo preto descrevia um círculo perfeito,não permitindo ver-lhe a cara.Agora também a multidão fechara um círculo à sua volta.
Um jornalista,presente no local,disse um dia à cerca do que tinha presenciado:-A reacção das pessoas na altura foi estranha,a princípio não conseguiram expressar qualquer horror...foi como que se ali estendido estivesse um anjo.
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6 comentários:
Quando te leio assim, não posso deixer de me emocionar com a sensibilidade que pões no que escreves.
Welcome back L.!
....muito engraçado, estou a escrever sobre um rapaz que ..... queria voar....
Beijinho grande
Vou ler isto na noite de Natal :)
Que posso eu dizer, que já não saibas?!?! :)
Continua....gostei muito...´
Próóóxiiiiiimo...
Filipa(*)
Uau!!! Mas que fantástico conto de natal!!! =D A sério... até nos faz rejubilar com a evidente magia da época!! =p
E agora... falando a serio, amei/adorei/quero mais ... =)
Lempicka
Acho que ja disse isto varias vezes...
Es o maior!!
Adoro a forma como escreves!!!
Continua!
Abraço
nao sei o que dizer...
...
:/
mas sim po ano podemos acabar...
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